Prefeito cede à pressão de empresários e reabre o comércio

28/04/2020

Mesmo em plena pandemia, o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins, cedeu à pressão dos empresários e apressou a saída da quarentena, autorizando, na noite da última segunda-feira (20), a reabertura do comércio. Os estabelecimentos comerciais estavam fechados desde o dia 21 de março. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), até terça-feira (28) foram contabilizados 67 casos do novo coronavírus (Covid-19) no município e um paciente evoluiu a óbito.

Assim como em outras cidades brasileiras, a doença tem se alastrado em Feira de Santana; o que confirma que não era o momento de relaxar o distanciamento social. Ainda que o decreto do prefeito permita a reabertura de estabelecimentos com até 200 metros quadrados de área, no horário das 9h às 16h, a medida aumenta o risco de transmissão da doença e de sobrecarga do sistema de saúde porque haverá um número maior de pessoas circulando pelas ruas.

Com essa medida, Colbert Martins aplica ao município a mesma política do presidente Jair Bolsonaro que, ciente ou não dos efeitos catastróficos do vírus, priorizou o funcionamento da economia e defendeu a retomada da rotina nos estados e municípios brasileiros. Com o intuito de salvaguardar os lucros dos empresários, categoria a qual o presidente representa, a vida das pessoas foi relegada a segundo plano. O importante, como sempre, é que os prejuízos não recaiam sobre o empresariado.

Preocupada em resguardar a vida das pessoas, a diretoria da Adufs defende o isolamento social, com o pagamento dos salários aos trabalhadores dos setores público e privado e, no caso das populações em situação de vulnerabilidade social, uma política de reparação aos prejuízos causados pela Covid-19. “Em momentos de crise como este que estamos passando, por causa da pandemia do coronavírus, o que os governos precisam fazer, imediatamente, é socorrer as populações que mais sofrem com o isolamento, seja financeiramente, porque perderam seus empregos ou porque já possuem uma renda insuficiente para as novas exigências da própria pandemia, seja pela sua condição de fragilidade social, pelo local de moradia e por viverem sem saneamento, sem acesso à água potável e sem equipamentos de proteção individual, como máscaras, luvas e álcool em gel. É um equívoco reabrir o comércio de uma cidade que se articula com dezenas de outras cidades e regiões da Bahia, justamente em um momento em que há um crescimento de casos de infectados”, disse André Uzêda, diretor da Adufs.

Covid e desigualdade social
A pandemia da Covid-19 desvela desigualdades na sociedade brasileira. Em Feira de Santana, a realidade não é diferente. As populações mais vulneráveis possuem acesso precário ao sistema de saúde de qualidade; usam transporte público lotado; não possuem emprego formal; vivem em péssimas condições de saneamento básico e têm dificuldade de manter o isolamento social sem perda excessiva de renda ou do emprego. Essa situação dita quem vai ser mais afetado pela doença, principalmente se considerado que o Brasil e a maioria dos seus municípios possuem governos que negligenciam investimentos na assistência social e que tampouco estão preocupados com a propagação do coronavírus entre a população.

O descaso com a condição social dos indivíduos e com a disseminação do vírus são a evidência de uma sociedade de classe e racista, na qual a elite branca, ainda que exposta a riscos, continua sendo a mais protegida.

Para evitar o colapso e a progressão acelerada do número de óbitos, as medidas propostas pelo governo deveriam ser direcionadas aos mais pobres, seja por meio de uma política de preservação de renda que favorecesse o isolamento social, seja por mais investimento no Sistema Único de Saúde (SUS).  

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