Docentes apresentam elementos favoráveis e contrários à manutenção do ANDES-SN na base de filiados da CSP-CONLUTAS

14/10/2022

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O papel das centrais sindicais no fortalecimento da classe trabalhadora: CSP-CONLUTAS em debate foi o tema da mesa realizada quinta-feira (13). As debatedoras foram as professoras Sandra Marinho, lotada na Universidade Federal da Bahia (Ufba), e Márcia Lemos, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Ambas relataram a delicadeza do assunto a ser abordado, diante da contribuição política da Central às lutas das diversas categorias de trabalhadores do país. Emocionada, a servidora da Uesb ainda parabenizou a diretoria da Adufs por convidar duas mulheres para dialogar sobre conjuntura, temática geralmente abordada por homens.

 

O debate integra a Semana das Professoras e dos Professores, organizada pela diretoria da Adufs para marcar o Dia 15 de Outubro, quando em todo o país se comemora o Dia da (o) Docente. Sandra Marinho discorreu sobre os fatores que corroboram com a continuidade do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) na base dos associados da Central Sindical e Popular (CSP-CONLUTAS). A professora elencou como um dos elementos mais importantes a serem considerados, a defesa do princípio da independência de classe, nunca abandonado pela Central, conforme a docente. Ela ainda informou que a CSP-CONLUTAS se fez presente em todos os momentos importantes vividos pelo ANDES-SN, esteve à frente das principais lutas da classe trabalhadora das zonas urbana e rural, fez campanhas nacionais para reiterar os demitidos, fortaleceu atividades setoriais nas lutas contra todas as formas de opressão, esteve sistematicamente nas reivindicações pelo Fora, Bolsonaro e nas mobilizações dos servidores públicos contra a PEC 32 e as contrarreformas, além de coordenar as principais greves e mobilizações operárias do país.

 

“Torna-se uma necessidade imperiosa estarmos vinculados a uma Central, no sentido de articular as reivindicações da categoria docente com a luta mais geral da classe trabalhadora, dos explorados e demais oprimidos. Isso porque a nossa força se potencia e se realiza coletivamente e não no isolamento ou por meio da construção de meios artificiais de luta, sem raízes na luta concreta da classe trabalhadora. Sabemos que não há organizações de classe infalíveis, porém temos que exercitar a crítica e autocrítica nesse processo de consolidação. As tarefas são hercúleas e a luta de classe precisa de muita disposição e têmpera revolucionárias. Não temos motivos de ordem classistas para levar adiante uma desfiliação do ANDES-SN da CSP-CONLUTAS, pois ninguém pode acusar a nossa central de praticar política de conciliação de classes, de ceder a interesses de empresários e das frações burgueses no Estado, nem de ter se tornado uma caixa de ressonância de uma burocracia aliada a governos e ao Estado. A CSP CONLUTAS é uma central que atua no seio do movimento da classe trabalhadora, expresso nos sindicatos, nos movimentos populares e da juventude, e nas lutas de setores oprimidos contra o machismo, LGBTQIAP+fobia, xenofobia e racismo, defendendo quilombolas e indígenas, ampliando sua interlocução com esses sujeitos coletivos, vilipendiados pela perversa lógica do capital”, justificou Sandra Marinho.

 

Ao contrário de Sandra Marinho, a professora Márcia Lemos apresentou os porquês do rompimento do ANDES-SN com a CSP-CONLUTAS. A docente observou que a Central nasceu da necessidade de construção de um instrumento capaz de contribuir com a reorganização da classe trabalhadora no país, inclusive com papel de destaque na direção desse processo. Também registrou que a CSP-CONLUTAS se apresentava como uma central sindical e popular a fim de expressar as singularidades das relações de trabalho estabelecidas a partir da reestruturação produtiva do capital. Mas, a servidora da Uesb elencou que houve problemas organizativos, análises equivocadas das conjunturas nacional e internacional, aparelhamento nas representações e dificuldade de inserção nos setores estratégicos para a reprodução do capital.

 

“A central tinha uma proposta avançada e deveria ser uma resposta ao projeto do campo democrático popular, pautado na conciliação de classes e na democracia de cooptação. É fundamental destacar que não é de menor importância os erros de análise de conjuntura, pois nossa prática é mediada pela nossa capacidade de perceber o movimento do real para sobre ele agir. E quando uma Central perde essa condição, ela desarma seus lutadores e lutadoras e deixa de ser o instrumento ao qual se propôs, aglutinador, reorganizador e perspicaz na mediação entre as pautas imediatas e a estratégia de emancipação da nossa classe. A linha política nacionalmente adotada pelas forças que hegemonizam a Central tornou seu projeto de partida inviável, afastou o MTST e reduziu sua capacidade de ação efetiva na luta de classes no Brasil, em especial em momentos de profundo acirramento das contradições capital-trabalho e das disputas, pelo estado, pelas frações da burguesia, a partir do pós-eleição 2015 e do golpe de 2016, que culminou com o impeachment de Dilma Roussef e graves erros de orientação política para sua base”, avalia Márcia Lemos. 


Escolha do tema

A escolha do tema foi motivada pelas posições acaloradas da categoria, ao longo de alguns anos, a favor da permanência e contra a continuidade do ANDES-SN na Central. Postura estas que se intensificaram no 40º Congresso do Sindicato Nacional, ocorrido entre 27 de março e 1º de abril deste ano.

 

Por conta deste cenário, o ANDES-SN remeteu o debate para discussões com a base ao longo de 2022, com o compromisso de sistematizá-las no 14º Conad Extraordinário, a ser realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Universidade de Brasília (Unb). O tema desta edição do Conad é CSP-CONLUTAS: balanço sobre atuação nos últimos dez anos, sua relevância na luta de classes e a permanência ou desfiliação da Central. Ainda segundo a decisão do Sindicato Nacional, o 41º Congresso do ANDES-SN, que acontecerá na UFAC, Rio Branco (AC), no início de 2023, deverá definir uma posição da categoria.


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