Distribuição de vacinas traz esperanças para enfrentar a pandemia; 1ª indígena da Bahia vacinada é egressa da UEFS

26/01/2021

Depois de inúmeras tentativas de inviabilizar a chegada da vacina contra a Covid-19, o governo federal sofreu sua primeira grande baixa durante a pandemia com a aprovação do uso emergencial da Coronavac e da Oxford-Astrazeneca no Brasil. Após diversos problemas causados por um planejamento estratégico ineficiente, as primeiras doses da Coronavac começaram a ser distribuídas entre os estados na última semana e o país, enfim, deu partida na contagem de vacinação. Já no sábado (23), foram liberadas mais 2 milhões de doses da vacina Oxford-Astrazeneca que chegaram da Índia após mais empasses políticos e também já estão sendo distribuídas.

Para a Bahia, foram enviadas 376 mil doses da Coronavac que é suficiente para imunizar 188.300 pessoas com as duas doses necessárias. Esta quantidade contempla 10,46% do total do grupo 1 que é formado por 1,8 milhão de pessoas. A Fase 1 é formada por Trabalhadores de Saúde; Idosos com idade maior ou igual a 75 anos; Idosos com idade maior ou igual a 60 anos em Instituições de Longa Permanência; Povos e Comunidades Tradicionais e Ribeirinhas.

A vacinação no estado da Bahia teve início por Salvador com a imunização da enfermeira Maria Angélica de Carvalho Sobrinho, de 53 anos, que trabalha no Hospital Couto Maia na linha de frente contra a Covid-19. Deisiane Tuxá, 31, do povo Tuxá, foi a primeira indígena vacinada no estado. Formada em enfermagem pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) em 2017, atualmente Deisiane Tuxá atua na Divisão de Atenção à Saúde Indígena ( DIASI) do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia ( DSEI) da Secretaria Especial de Saúde Indígena ( SESAI), com sede em Salvador. Ela é Enfermeira Responsável Técnica e trabalha com Monitoramento e avaliação de dados epidemiológicos, matriciamento das equipes, além de realizar visitas técnicas nos territórios.

Para a enfermeira Deisiane, o trabalho desenvolvido na pandemia tem sido de bastante tensão principalmente no início da pandemia, quando foram realizadas as primeiras reuniões com lideranças e as secretarias. Agora o trabalho se concentra mais na distribuição das vacinas, mas o medo de perder pessoas permanece. Para o seu povo, em especial, o momento tem sido muito difícil: “A Pandemia gera um impacto para todos nós indígenas, para o meu povo Tuxá é um desafio, pois foi preciso ficar recluso, sem praticar os rituais porque não poderia ter aglomeração; muitos tiveram que sair para trabalhar mas com medo de adoecer e adoecer os familiares e os parentes da aldeia. E como temos costume de viver em coletivo, ficar longe dos parentes é bastante ruim. Não poder sentar como de costume na frente da casa à noite, por exemplo, que é algo bastante comum lá, porque é através desses momentos que aprendemos, ouvindo os mais velhos, através da oralidade”, conta Deisiane.

Entre os indígenas, resistir continua sendo a lei de ordem diante de um país tão desigual e excludente que obriga os indígenas a permanecer em estado de alerta: “Nós resistimos para existir, desde muitos anos; são diversas as formas de violência que passamos. A pandemia enfatizou muito a desigualdade que temos em nosso país. É muito complexo o cenário político porque ameaça nossas vidas, mas nós continuamos lutando e defendendo nossos direitos”, explica.

Para Deisiane Tuxá, receber a notícia de que seria a primeira indígena vacinada foi um momento de grande emoção: “Fiquei bastante feliz , emocionada quando recebi o convite. Eu estava deitada já me preparando para dormir e minha chefe ligou perguntando se eu gostaria de ser a primeira Indígena a ser vacinada. Foi o Coordenador do distrito (DSEI Bahia) quem fez esse convite”, relata, destacando a importância da vacinação, principalmente, tendo os povos indígenas no grupo prioritário: “A vacinação é importante para todos mas se tratando da população prioritária como a indígena ela é urgente, porque tanto cientificamente quanto historicamente somos população prioritária desde a invasão do nosso território, então é preciso que os indígenas sejam vacinados, para que a gente evite o adoecimento e óbito de mais parentes”, enfatiza Deisiane Tuxá.

Vacinação no interior

Em Feira de Santana, as primeiras doses da vacina Coronavac foram aplicadas na última terça (19). O município recebeu um total de 13.200 doses que estão sendo aplicadas prioritariamente nos profissionais que assistem diretamente às vítimas do coronavírus, idosos institucionalizados e indígenas, conforme determinação do Ministério da Saúde. Duas enfermeiras que fazem parte da linha de frente do combate ao coronavírus no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), ambas atuantes nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs) Covid receberam as primeiras doses.

A vacinação já se estendeu por outras áreas do Hospital. Wallace Vitor Brito, 31, que trabalha há pouco mais de 2 anos como auxiliar de serviços gerais no HGCA, também recebeu a primeira dose da Coronavac: “Quando eu recebi a vacina tive um sentimento de satisfação e alívio por estar sendo imunizado e não apresentei nenhum sintoma após a vacinação”. Ele defende a vacinação para todos: “Acho muito importante que todos se vacinem para que possamos acabar com esse vírus que está ceifando tantas vidas. Agradeço muito a chegada da vacina aqui na Bahia e por eu já ter tomado essa primeira dose”, afirmou Wallace Vitor.

Taise Veloso, 43 anos, técnica de enfermagem na UPA de Feira de Santana, localizada ao lado do HGCA, também trabalha na linha de frente da pandemia recebendo todos os dias pacientes infectados aguardando a regulação para os hospitais locais e foi a primeira técnica a receber a vacina no município de Feira de Santana: “Para mim foi uma satisfação receber essa dosezinha de esperança que é para toda a população, para o mundo inteiro. A vacina é muito importante porque é um sinal de melhora para todos os brasileiros. Espero que a população se conscientize porque realmente é necessário tomar a vacina para que haja imunização e eficácia para sairmos dessa pandemia”, afirmou.

Neste último domingo (24), a Bahia recebeu mais de 119 mil doses da vacina Oxford-Astrazeneca que estão sendo enviadas para as cidades do interior. Por se tratar de uma vacina que tem resposta imediata mais ampla, a estratégia é que todas as doses já sejam aplicadas. Assim, será possível aguardar entre 90 e 120 dias para a aplicação da segunda dose. Segundo dados do painel de vacinação do Ministério da Saúde, a Bahia já vacinou mais de 75 mil pessoas.
 

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