Para 2021, saúde, esperança e luta!

28/12/2020

Encerrando os trabalhos em 2020, com os mais sinceros votos de que 2021 nos traga os encontros saudáveis que desejamos viver, refletimos sobre as perspectivas do cenário que se avizinha. São tempos difíceis! Quando nos faltam palavras, recorremos à sabedoria daqueles que podem enxergar para além da desesperança que insiste em nos rodear.

Por isso, convidamos o professor da UEFS, Eurelino Coelho, para nos falar sobre a sua perspectiva para 2021 e nas suas palavras encontramos a dose de realidade necessária para dizer que seguimos acreditando na luta que nos move. Desejamos a todas (os) as (os) companheiras e companheiros dias de paz, reflexão e descanso com respeito às medidas sanitárias para que logo possamos nos reencontrar com saúde e segurança.

 

Há Esperança? Por Eurelino Coelho

Tem um autor italiano que eu gosto bastante chamado Gramsci que repetiu várias vezes em seus textos um aforismo que nem é dele, mas que se refere ao Otimismo da Vontade, Pessimismo da Razão e eu quero usar essa referência para falar sobre o que nos espera em 2021.

A razão nos convida ao pessimismo diante da unidade política de uma classe dominante que está de acordo entre si quanto à prioridade de subtrair direitos para preservar seus próprios ganhos, para preservar seu patrimônio já gigantesco. E com isso, seguir na concentração de renda, seguir na concentração da propriedade que significa interdição em alguns casos do próprio direito à vida.

De um lado, a gente tem este consenso, o prosseguimento da Pandemia, a dificuldade de uma vacina. A vacina, que já está disponível para algumas sociedades, mas aqui no Brasil tudo indica que ela virá com muita lentidão e será muito difícil que as grandes maiorias tenham acesso à vacinação ainda no ano que vem.

A pandemia, deste modo, é um cenário pessimista. Também é pessimista, o cenário econômico em geral. A gente não tem nenhuma perspectiva de retomada do emprego, de retomada da valorização do trabalho, da força de trabalho no mercado de trabalho, portanto, a razão nos leva a uma visualização pessimista de 2021.

Gramsci, no entanto, não fala à toa do Otimismo da Vontade, porque é a vontade que pode produzir respostas organizadas, coletivas, a este cenário tão pessimista, tão desesperançoso. É a vontade de construir, a vontade de descolar desse chão tão devastado que pode produzir coletivamente a energia capaz de mudar as coisas.

Se a gente puder temperar esta vontade de mudar, essa vontade de lutar, essa vontade de dar, de produzir, de construir respostas... Se a gente puder temperar essa vontade com a razão necessária para que ela seja eficiente, para que ela seja organizada, para que nós saibamos construir entre nós a unidade sem que isso signifique apagar ou silenciar as diferenças entre nós... Se for possível que operemos a razão até o ponto em que isto permita que a nossa vontade se expresse, então temos razões para conservar o Otimismo da Vontade.

Estou torcendo o aforismo de Gramsci, estou fazendo ele girar sobre ele mesmo, justamente porque eu acho que esta reviravolta sobre a gente mesmo é o que temos que dar se quisermos que 2021 não seja aquilo que o pessimismo indica que ele será. O caminho passa pela vontade de lutar, pela vontade de construir as lutas, pela vontade de fazer algo diferente. E nós somos capazes disto, sim!

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