Auxílio proposto pela Administração Central da Uefs atenderá 10% dos estudantes

04/08/2020

Mesmo com manifestações contrárias de membros da comunidade acadêmica à implantação das atividades remotas na Uefs, a Administração Central tem empenhado todos os esforços para colocá-las em prática; sobretudo, agora, com a concessão do Auxílio Inclusão Digital Emergencial aos estudantes da graduação e das pós-graduação matriculados no Período Letivo Extraordinário 2019.2. No entanto, antes de ser posta em prática, a proposta já suscita dúvidas entre docentes, que sinalizam para alguns problemas.

Uma das preocupações destes docentes refere-se ao alcance da proposta, pois serão atendidos apenas 1 mil do universo de 10.083 mil estudantes da graduação e da pós-graduação. Um outro problema refere-se àqueles discentes que optaram por cursar disciplinas do Período Letivo Extraordinário, mas, mesmo cumprindo as regras determinadas para a concessão do Auxílio Inclusão, não contarão com o acesso à internet concedido pela instituição por conta do número limitado de benefícios. Também há de se considerar como problema o fato de muitos discentes acessarem a internet através do celular por não disporem de um computador, o que compromete o aprendizado.

Além disso, ficarão de fora os discentes que moram em localidades que, por serem mais distantes das sedes dos municípios, não são cobertas pelo sinal das operadoras. Não se pode deixar de indagar também, sobretudo neste momento inicial em que o benefício está sendo disponibilizado, se o valor previsto no edital do governo contempla um pacote de dados satisfatório para atender às demandas das aulas, mediadas por vídeos e arquivos mais pesados do que as convencionais redes sociais.

Somando à esses agravantes, a Administração da Uefs propôs as atividades não presenciais como medida de adequação das atividades acadêmicas durante a pandemia da Covid-19, sem considerar que 63,4% dos docentes e 56,9% dos estudantes da instituição têm pouca ou nenhuma experiência com o uso de recursos remotos. Esses dados foram obtidos pela própria universidade, após consulta à comunidade acadêmica.

A resistência em continuar as atividades acadêmicas de forma remota foi discutida em duas reuniões ampliadas e uma assembleia de professores, realizadas através da internet. Na ocasião, os docentes ressaltaram que a educação mediada pelas novas tecnologias impede a interação com os discentes e dificulta a qualidade do ensino e da aprendizagem; precariza as condições de trabalho e estudo; sinaliza com a possibilidade de o governo estadual adotar a Educação a Distância (EAD) como modelo de educação e, consequentemente, abre espaço para que seleções e concursos públicos sejam suspensos e ampliem-se as desigualdades sociais existentes no ensino superior.

Governo satisfeito
Os fatos indicam que a iniciativa dos gestores da universidade parece ter agradado ao secretário Estadual da Educação, Jerônimo Rodrigues, que na última sexta-feira (31) concedeu entrevista para uma emissora de televisão baiana e afirmou que “se preocupando com os estudantes que não têm acesso à internet, a universidade, que tem esse estudo bastante aprofundado, fará um edital para garantir um auxílio conectividade”. É importante registrar que antes e durante a greve de 2019, o chefe da pasta em nada contribuiu com o avanço das negociações sobre a pauta da categoria, que à época reivindicou ações em defesa da qualidade da educação pública superior.

A referida iniciativa do governo explicita claramente que a proposta do Período Extraordinário sugerido e aprovado, na forma e no conteúdo, pela Administração Superior da Uefs, foi antecipada, apressada e desatenta aos problemas da própria universidade. Foi proposto um semestre independentemente das mínimas condições para a sua realização, mesmo com os questionamentos das entidades representativas dos técnico-administrativos, professores e estudantes. Além disso, a própria oferta de componentes curriculares pelos colegiados e departamentos já está concluída, sem levar em consideração o referido edital.

A diretoria da Adufs ratifica a defesa da inviabilidade deste Período e da favorabilidade da educação presencial, no momento em que as condições sanitárias e epidemiológicas apontarem como possíveis. A posição de seus dirigentes tem como referência o que o ANDES-SN vem discutindo ao longo de duas décadas sobre qualidade da educação pública superior, bem como o posicionamento de professores da Uefs obtido em reuniões ampliadas e assembleia realizadas virtualmente.

Auxílio Inclusão Digital Emergencial
Será concedido a 1 mil estudantes da Uefs, em situação de vulnerabilidade socioeconômica e que não possuem acesso à internet, um auxílio no valor de R$ 80 para a aquisição de pacote de dados. Segundo nota publicada no site institucional da Uefs, o recurso é para a participação destes discentes nas atividades remotas propostas pela instituição. A previsão é disponibilizar o Auxílio durante três meses, a partir de agosto, já que o Período Letivo Extraordinário iniciará no dia 17 deste.

A concessão do benefício será mediante seleção via edital, que deverá ser publicado pela Pró-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (Propaae) e divulgado no site da Uefs até esta semana. Os demais critérios para a participação na seleção constam no edital.

O Auxílio Inclusão Digital Emergencial foi uma solicitação da Administração Central da Uefs ao governo estadual. Segundo a pró-reitora da Graduação, Fabiana Bertoni, o número de auxílios não representa a meta desejada pelos gestores da universidade, que é contemplar todos os discentes, inclusive por meio da oferta de equipamentos.

Leia Também