Comunidade acadêmica prestigia debate com a professora Virgínia Fontes

08/12/2017

“A luta que devemos travar é a de enfrentar as relações capitalistas e o conjunto das determinações sociais capitalistas”. Foi com essa convocatória à plenária que a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Virgínia Fontes, iniciou o debate realizado na Uefs, na última terça (5). O tema da atividade foi "13 anos do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder, golpe e perspectivas para a classe trabalhadora brasileira”. 

Durante a fala, a docente afirmou que a forma do capitalismo, hoje, no mundo, é imperialista. A expressão capital-imperialismo, conforme Fontes, indica o movimento ocorrido após a Segunda Guerra Mundial, no qual a violência de classes se multiplica, com repetidas agressões militares, imposição de ditaduras contra as revoltas populares e agudização das tensões em diferentes países.

No caso do Brasil, a pesquisadora defende que esta forma de capitalismo já está implantada e que a partir dos anos 90, para enfrentar a possibilidade crescente das lutas populares, o conjunto das burguesias brasileiras, associada às burguesias internacionais, se organizam no sentido de conter a classe trabalhadora e o Partido dos Trabalhadores (PT). O PT surgiu no início dos anos 80 como um grupo de base popular, em um contexto de grandes lutas sociais.

A professora da UFF ainda analisou historicamente o Partido dos Trabalhadores e falou sobre o processo de mudança que incidiu na sua relação com a luta de classe, a expansão da burguesia no país, inclusive nos governos do PT, e sobre o conjunto das circunstâncias que culminaram com o golpe de 2016.

“Nos últimos 25 anos, vimos um período de expansão de grandes burguesias regionais fora do eixo Rio/São Paulo e um crescimento exponencial das entidades sem fins lucrativos. A maior parte dessas entidades nasceu nos meios populares que lutavam por pautas especificas. Nos anos 2000, esse processo se refina através do crescimento das entidades financiadas por empresas. Essas entidades são voltadas para a educação, a formulação de leis e, por último, para impedir que o rodízio de partidos no poder possa alterar desenhos políticos. Um grande exemplo dessas é o Movimento Todos pela Educação. Ele se tornou parceiro do governo em escala federal na gestão de Lula. No período dos governos do PT, o estado brasileiro acolheu os representantes da burguesia empresarial, que atuaram na formulação e condução de políticas e no desmonte das conquistas populares”, disse a docente.

Manifestações de 2013
Em sua fala, a professora disse que as manifestações populares de 2013 foram reflexo não somente da insatisfação com a corrupção política no país, mas do esgotamento do PT e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de mobilização popular.

“Mesmo com o oportunismo da direita, o PT foi um dos alvos das manifestações daquele ano. O grande problema do Partido é a devastação que promoveu em sua própria base popular, sem barrar a criminalização dos movimentos sociais ou a barbárie cotidiana. Aprofundou-as e desarmou os elos de conexão entre direções sindicais e bases, não enfrentando as novas formas de vida dos trabalhadores. O PT abrigou as pautas burguesas, com compensações sociais”, avaliou.

A professora também apontou que o PT é uma liderança de uma esquerda voltada para o capital. Segundo ela, “a consolidação institucional do governo Lula levou a uma política de duas caras. Uma cara na qual se alivia o sofrimento da pobreza, de maneira muito pontual e sem assegurar direitos, enquanto a outra mão impulsiona a concentração de capitais. Hoje, no Brasil, esse formato político de minorar o excessivo sofrimento da pobreza garante a legitimidade eleitoral para o processo da concentração econômica”.

Impeachment

O impeachment resulta de uma sequência de tensões internas interburguesas e interparlamentares, segundo Virgínia Fontes. “Mostra igualmente a incapacidade burguesa de liderar o conjunto da política durante uma crise econômica através de meios tradicionais burgueses. Estavam participando (diretamente, ou por intermédio de suas entidades associativas) de todos os principais setores do Estado e da economia. Vinham recebendo as benesses da política de acomodação levada pelos sucessivos governos do PT”, afirmou.

“Em 2016, as burguesias enriquecidas e poderosas corromperam todos os partidos, que se tornaram balcões de negócios, cada dia mais ávidos. A Operação Lava Jata, que conta com verbas faraônicas do Estado Brasileiro, vai abrir caminho enviesado pelo judiciário, bombardeando o parlamento, uma parte dessa burguesia e o PT”.

Universidades
Virgínia Fontes avaliou que não houve uma preocupação do PT em trazer para as universidades uma reflexão sobre o que é o capitalismo, dominação de classes e o que isso significa no Brasil. A docente defende que o assunto é importante porque a pauta que dominou a experiência política do período mais recente do Brasil foi a pobreza.

“Vamos falar em diminuir a pobreza, e não em enfrentar a produção da desigualdade. Essa é uma pauta da burguesia internacional para lidar com os trabalhadores no mundo inteiro, em especial, o brasileiro”, finalizou.

A atividade com Virgínia Fontes integrou o Ciclo de Debates organizado pelo Grupo de Trabalho e Política de Formação Sindical (GTPFS), com o apoio da diretoria da Adufs.  

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