Este ano, o Brasil já matou 112 transexuais e travestis

22/08/2017

O Brasil, país que mais mata pessoas trans no mundo, já tem registrado até o início do mês de agosto deste ano a trágica marca de 112 assassinatos de transexuais e travestis. O levantamento é da Rede Trans Brasil, que faz o monitoramento da violência contra pessoas trans, com base em dados e informações coletadas através da imprensa, relatos familiares e junto a movimentos LGBT.

No ano passado, a Rede identificou 144 assassinatos por transfobia. Segundo outra organização, a ONG Transgender Europe, entre 2008 e 2016, foram assassinados, pelo menos, 868 travestis e transexuais. Mas mesmo esses números assustadores não refletem a realidade de violência e exclusão imposta a este setor, pois a subnotificação é outra face dessa realidade. No Brasil, além da homofobia/transfobia não ser considerada crime, não há especificação dos crimes motivados por preconceito de gênero pelos órgãos de Segurança Pública.

As que mais morrem e vivem menos
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 25 horas um/uma LGBT é assassinada (o) no país. As pessoas trans, nesse cenário, são as mais afetadas. Não à toa pesquisas também revelam que enquanto a expectativa de vida da população em geral no Brasil é de 75,5 anos, uma pessoa trans vive apenas até os 35 anos (em média).

Para Gean Santana, integrante da Secretaria LGBT da CSP-Conlutas e coordenador da Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Feira de Santana (Adufs), os dados da violência contra LGBTs, principalmente contra transexuais e travestis, exigem a criminalização da LGBTfobia, mas, também, uma série de outras ações.

Gean destacou ainda que além de serem vítimas de violência, transexuais e travestis enfrentam a exclusão do mercado de trabalho, dificuldades para acessar os serviços de saúde e as escolas e não contam como uma legislação protetiva, sem contar a incompreensão e a rejeição familiar, consequências da homofobia institucionalizada na sociedade.

“Infelizmente, para nós, militantes LGBTs, esses dados não são nenhuma novidade. A morte de um/uma LGBT por Lgbtfobia representa o coroamento de uma sequência de violações, pois, antes de serem mortas/os, passaram por várias formas de violência, a começar na própria casa, com piadas, agressões físicas e até assassinatos”, disse.

É urgente a implementação de um conjunto de ações que passam pela qualificação de profissionais diversos, como professores, advogados, médicos, enfermeiros, entre outros; a elaboração de materiais didáticos para os vários níveis da educação com a temática LGBT para desconstruir o preconceito; e abordagem da temática com frequência maior nos vários espaços de militância, a exemplo dos nossos materiais (jornais, boletins, panfletos…). Não podemos tratar do tema apenas nas datas simbólicas”, afirmou.

Gean destacou ainda que há vários projetos no Congresso que atacam ou restringem direitos dos LGBTs e que as reformas do governo Temer vão agudizar ainda mais as dificuldades dos setores oprimidos, na medida em que precarizam os serviços públicos e causam um impedimento ainda maior para a inserção no mercado de trabalho.

“As pessoas trans são justamente as/os mais vulneráveis e que precisam de uma maior assistência por parte do Estado através da Seguridade Social. As reformas representam uma verdadeira tragédia para os LGBTs, em especial às trans e travestis”, alertou.

Fonte: CSP-CONLUTAS, com edição. 

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